quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

São Tantos Porquês

 




Estou no limiar de entrada, sinto medo, muito medo, não sei o que vou ver, vou encontrar, quero dar o passo para cruzar a linha, quero muito, mas travo. Não é medo do ruim, é do bom, como será encontrar o lado bom que ninguém ou eu não conheço.
O ruim é fácil sair dele, tantas vezes o chão ruiu, e novos e muitas vezes frágeis alicerces foram construídos e tudo começou ou recomeçou. Quando começamos a ver os pés de barro o encanto acaba e fica o gostar ou não gostar como é ou o não gostar e não querer mais, e quando nossos pés de barro começam a ruir, como conviver, como olhar e ver realmente como é, seja bonito ou feio, como ver que o que outras pessoas acham bom e especial, não é nada, além e pés que podem desconstruir e reconstruir, mas que tem medo de chegada ou partida, mas a linha de continuidade de onde parou em algum momento. Uma linha que não leva a nenhum lugar específico, que leva à certeza de um estado de alma onde há equilíbrio, apesar do desequilíbrio, do cansaço, do trabalho duro, dos desafios, do conhecimento ou desconhecimento, de descobrir novos mundos e novas realidades, onde a realidade é do outro e não nossa, onde a nossa nos é conhecida por nós e por todos e isso não incomoda mais, porque nossos pés de barro foram desfeitos e refeitos de material flexível, onde a realidade do outro não desequilibra porque aprendemos a nos equilibrar, sem carregar, dando o ombro, a mão, o abraço, a palavra, o beijo, sabendo que isso preenche a alma e nos cansa, mas nos fortalece.
Sair de nós para o outro é difícil, gratificante, reconfortante e sair de nós para nós mesmos é como cruzar a linha. Como ir sem o medo de machucar, sem o medo do que vai encontrar, sem a esperança de que ser for ruim reconstruímos e se for bom o que fazer?
Como aceitar o que é bom, o que é merecimento, é conquista e que nada precisa estragar, podemos dar continuidade, apesar de tudo de ruim que está à nossa volta, não precisamos estar mal para fazer parte, podemos estar bem com parcimônia, para que o que ou os que estão ao nosso redor fiquem melhor, sem sentirmos culpa dos carinhos de Deus para nós. 
Cruzar a linha sem a falsidade do não mereço, se é ou está comigo é porque mereço ou é para compartilhar. Porque sentir-se diminuída ou envergonhada porque tem, porque pode ou sabe fazer, porque o medo de saber, porque o medo de mostrar que sabe. Todos sabem algo mais que o outro porque o saber é diferente em cada um.
 Porque não trabalhar, ganhar com seu trabalho, com continuidade, porque não querer mais, porque o suficiente é sempre bom. Ser reconhecida por seu trabalho ou valor pessoal é ruim ter mais que os outros seja o que for, material ou imaterial não é legal.
Como cruzar a linha com tantos porquês  como ir em frente no bom, no reconhecimento, na valorização, se traz insatisfação, insegurança. Como acolher mais um eu, se este ainda está tão inseguro de ir para esse mundo em que sabe que tem valores  próprios, que é capaz , que se desenvolve como um novelo em um lindo trabalho. O patamar alcançado não é suficiente, como continuar para o topo da escada se o medo de estar lá em cima é grande demais.
Linhas são cruzadas a todo instante, escadas são escaladas, porque umas dão mais medo que outras, porque algumas são mais confortáveis mesmo sendo mais difíceis e sofridas.